quarta-feira, 11 de maio de 2011

Insônia

01h35min da manhã. Acordei meia hora atrás e desde então não consigo dormir. Tenho insônia. Lá fora as sombras se esticam pela cidade sob a luz incandescente dos postes. Chove forte. As sombras, luzes, postes e tudo mais se tornam bruxuleante aos olhos. Não há relâmpagos, não há trovões. A cidade dorme em silêncio, exceto pelo som das gotas de água atingindo o solo, erodindo-o lentamente. O cheiro de ozônio invade minhas narinas. Cheiro bom. Cheiro de chuva. As gotas investem contra as janelas pelas quais eu observo este cenário. Estou seguro aqui dentro. Seguro da chuva, da noite, do frio. Não há energia elétrica em minha casa, não há luz, apenas a pouca iluminação que entra pela janela formando figuras obscenas e desesperadas nas paredes, como se a própria luz quisesse fugir da chuva, da noite e do frio. Besteira. Viro-me de costas para as janelas, minha sombra se estica no chão da sala. O cômodo dorme em completo silêncio, exceto pelo som fantasmagórico da minha respiração pesada. O ar entra, o ar sai, erodindo meus brônquios, minha traquéia, oxidando cada célula. Coisa boa, coisa ruim. Vou até o mini-bar e me sirvo com uma dose de Uísque Chivas 12 anos, me sento na poltrona, virada para a janela e tomo um trago, esperando que o álcool e o espetáculo hipnótico de luzes e chuva tragam fim à minha insônia. Lá fora os postes piscam, ameaçando a cidade com o vislumbre da completa escuridão. Maldita light! Tomo um trago. Isso ainda vai me matar. O Uísque ainda vai me matar. A insônia ainda vai me matar. O ar ainda vai me matar. Traidor! O vazio, as sombras, a luz, a chuva, os postes, a noite, a cidade, todos ainda vão me matar. Os postes começam a piscar com maior freqüência. Que diabos! A madrugada zoa de mim em código Morse: "Ei, otário! Não consegue dormir? Perdedor! Vem aqui fora que vamos te levar para o sono eterno, seu babaca!". Escuridão. Os postes se apagam de vez. Tomo um trago. O som da chuva se torna mais forte, como uma torcida berrando em um estádio. Fecho os olhos, eles são inúteis agora. Rezo hipocritamente pela graça do sono, enquanto no fundo minha mente vaga por flashbacks do dia, e da vida. Gosto disso. É meu arauto do sono, quando me perderei em meio a torrente de pensamentos e acabarei em um sonho. Começo a relaxar. Sinto o copo de uísque escapando de meus dedos, puxado para baixo pela impiedosa gravidade. Vai quebrar. Foda-se, contanto que eu durma. O som da chuva parece cada vez mais distante, perdendo intensidade em um fade - out lento, sonolento. Au! Au! Susto. Copo no chão. Cachorro filho da puta! Não é meu, não tenho animais de estimação. É do vizinho, velho, e surdo. Deve ser fácil dormir nessas condições. Pensei em ir até lá e acordá-lo apenas para dizer: "Ei, babaca, seu cachorro me acordou.", mas não faria diferença. Estico o braço tateando em busca da garrafa de Chivas, quase a derrubo, e tomo um trago, depositando em seguida a garrafa entre minhas pernas. Um relâmpago corta a escuridão, e a luz invade momentaneamente a sala, como um flash de máquina fotográfica. Deve ser isso. A madrugada zombando de mim novamente, registrando esse momento patético. Um bêbado insone agarrado a uma garrafa de Uísque, sentado em uma poltrona, sozinho em meio a total escuridão. Patético. Percebo que a chuva começa a diminuir e em cerca de vinte minutos – pode ter sido uma hora, não sei - ela cessa totalmente. O silêncio agora é absoluto, assim como a escuridão. Sinto-me uma pedra de gelo imersa em um drinque dos infernos. Um terço de uísque, um terço de escuridão e um terço de silêncio. Insônia é o nome do drinque, servido pelo próprio capeta, que no momento, deve estar dormindo. Só posso esperar que como nos drinques, a pedra de gelo se dilua. Tomo mais um trago e afundo na poltrona, deixando minhas forças se esvaírem e meus pensamentos vagarem soltos. Acho que dessa vez vai funcionar, e funciona. Durmo. Mas tem algo errado, eu sei que estou dormindo. Não consigo mais mexer o corpo, devo ter me entorpecido. Mas não é isso, estou dormindo. Posso sentir. Diabos! Ninguém pode sentir que está dormindo. Ouço meu ronco, começo a me desesperar. Preciso acordar! Tento gritar. Acordo. Estou sentado na cama. Olho o relógio, 03h05min da manhã. Deve ter sido um pesadelo. Escuto a chuva lá fora. O ventilador de teto está desligado, não há energia elétrica em minha casa. Deito-me novamente. Não consigo dormir.

4 comentários:

  1. Wow. Você tá escrevendo bem demais, cara. o_o
    Aliás, insônia... Conheço muito bem essa sensação, haha. Continue escrevendo, continuarei acompanhando.
    Beijo!

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  2. Parabéns! Vc escreve bem!

    Só uma sugestão, divida em mais parágrafos
    um paragrafão eh mai cansativo de ler

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  3. Vlw Bia! Enquanto puder continuarei hahaha.
    Insônia é tenso. "/


    Valeu Alex, eu estava pensando nisso mesmo. Vou dar uma estudada na melhor forma de usar parágrafos e ver se consigo melhorar nesta questão. Obrigado, abraços!

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  4. Sobre os parágrafos... Nem tive problemas em ler na falta deles, mas realmente fica bem mais organizado e visualmente bonito quando tem uma divisão. Uma dica que eu te dou é pensar o texto em vários tópicos, se for a progressão de uma história só, crie subdivisões nela.

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